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Corpo e pensamento

domingo, 2 de dezembro de 2018

Laozi, o filósofo do jeitinho

Toda árvore, todo ser nasce fraco e delicado. Mas morre rígido e forte. (76)

Assim, o sábio não age e, por isso, nada estraga; não segura e, por isso, nada perde. (64)

Feita a obra, ele não a chama de sua propriedade. O Tao veste e alimenta todas as coisas e não pretende ser o senhor delas. Assim também o sábio: ele jamais se engrandece, e assim realiza a grande obra. (34)

O sábio, porque não briga, ninguém pode brigar com ele. (22 e 66)

Sair vitorioso de uma guerra é o mesmo que assistir a um funeral. (31)

A fraqueza vence a força,  a suavidade vence a dureza. (78)

(os números entre parênteses se referem aos capítulos do livro Tao Te Ching, de Laozi - também conhecido como Lao Tse e Lao Tzu)




quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Heráclito de Éfeso: estado de vigília e idiotia

Nosso velho amigo Heráclito, embora choroso, parece ter algo a nos dizer para estes tempos bicudos:

"Para aqueles que estão em estado de vigília, há um mundo único, e comum." (fragmento 89)

"Mas, a despeito de o Logos ser comum a todos, o vulgo vive como se cada um tivesse um particular." (fragmento 2)

Heráclito, o filósofo que chora

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Hipócrates: o espontâneo [tò autómaton] não tem realidade, sendo apenas um nome

Na maioria das coisas que crescem ou se preparam estão presentes as substâncias essenciais das curas e medicamentos, de modo que ninguém que se cura sem médico pode atribuir a recuperação ao espontâneo. De fato, examinando de perto, o espontâneo [tò autómaton] desaparece, pois descobre-se que tudo ocorre por alguma causa, e isto mostra que o espontâneo não tem  realidade, sendo apenas um nome.  A medicina mostra sua existência através disso e também quando realiza previsões, motivo pelo qual possui e possuirá sempre uma essência evidente. (Corpus Hippocraticum, Acerca da Arte, 6)

domingo, 16 de julho de 2017

Demócrito: prazeres curtos, sofrimentos numerosos

Os que procuram os prazeres no ventre, desrespeitando a justa medida, na mesa, na bebida e no amor, para estes são os prazeres curtos, durante o tempo em que comem ou bebem; os sofrimentos, porém, são numerosos. Pois o desejo das mesmas coisas renasce sem cessar, e uma vez atingido o que se propunham, desaparece o prazer rapidamente, sobrando-lhes pequeno gozo: e novamente impõe-se a necessidade de outras satisfações.  (fragmento 235)


sábado, 17 de junho de 2017

Demócrito: plenitude razoável

É preciso que quem quer sentir-se bem não faça muitas coisas nem particular nem publicamente, e o que faz não assuma além de sua força e natureza. Ao contrário, é preciso que, mesmo que a sorte o tome e, pela imaginação, o leve pouco a pouco ao excesso, tenha cuidado bastante para renunciar e não procurar mais que suas forças permitem, pois uma plenitude razoável é coisa mais segura que uma superplenitude. (Fragmento 3)

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Demócrito: sobre ambição

Os ambiciosos têm o destino da abelha: trabalham como se fossem viver para sempre. (Fragmento 227)

Demócrito: sobre comunidade

A falta de recursos da comunidade é mais dura do que a de cada um, pois não lhe resta esperança de ajuda. (Fragmento 287)




sábado, 11 de março de 2017

Anaximandro e Demócrito

Abaixo, interessante passagem de um texto (Dissecando a metafísica da escassez, publicado no blog humanaesfera) que expõe e contrasta as filosofias de Anaximandro e Demócrito:

"[...]

ANAXIMANDRO E DEMÓCRITO


Anaximandro de Mileto
A primeira expressão filosófica da metafísica da escassez que conhecemos foi exposta por Anaximandro, que dizia que o nascimento dos seres é dívida, e que portanto a vida é paga com a morte: 

"Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois pagam umas as outras o castigo e a expiação pela injustiça, conforme a determinação do tempo." (fragmento 1 de Anaximandro). 

[Obs.: É evidente que essa visão moralista da natureza é uma continuidade dos mitos gregos de Diké e Nêmesis, deusas que personificam a "justiça", a retribuição inelutável, a dívida inescapável, e que inexoravelmente "dá a cada um o que lhe é devido". Como veremos, a metafísica da escassez continua até os tempos atuais fundamentalmente religiosa, mítica ou mesmo animista.]

De Anaximandro até nós, a maioria das filosofias se baseou em alguma metafísica da dívida, da troca de equivalentes, das recompensas e punições. Nos tempos modernos, o representante talvez mais respeitado (por causa de suas pretensões científicas) dessa metafísica é o entropismo, ideologia que afirma que, sendo o aumento da entropia (portanto, a morte) a regra geral do universo, cada ser é explicado por estar energeticamente submetido a uma relação de austeridade e dívida energética a ser estritamente equilibrada, compensada, paga no futuro.

Porém, uma outra corrente, subterrânea na história da filosofia, também se expressou ao menos desde a Grécia antiga: Demócrito e os demais materialistas afirmavam, de modo geral, que, se existimos, é porque somos gratuitos, supérfluos, já que não haveria nenhum sentido anterior à própria existência: seríamos fruto do acaso (Diné de Demócrito, Clinamen de Lucrécio) - e a necessidade (e portanto, o tempo) é a consistência de cada existente pela qual ele dura, expressa e desdobra essa gratuidade de, em e além de cada ser singular, ou seja, é sua liberdade. [2] 


Demócrito de Abdera
Desse modo, reconhecendo que a "regra geral da natureza" é a decomposição, destruição, aumento da entropia (p. ex., o tempo -  verificado pela morte, a que tudo está mais cedo ou mais tarde submetido - e o espaço - os corpos não ocupam o mesmo lugar etc - esse primeiro esboço do conceito de entropia já era conhecido pelos materialistas antigos), os materialistas concluem, ao contrário do que pensava Anaximandro,  que isso significa que cada ser específico que surge e perdura nesse universo se fundamenta na gratuidade, desperdício, superfluidade, dissipação. 

Essa afirmação fica clara levando-se em conta o modo como os materialistas explicam o mundo: o tempo todo, no universo, incontáveis eventos ou composições (no caso, os atomistas pensavam nas combinações entre os átomos) acontecem simultaneamente, mas como a esmagadora maioria dessas composições não encontra consistência, elas não perduram, se decompõem e se dissipam rapidamente. Por esta razão, é improvável, raro, que algo singular exista além da decomposição praticamente instantânea. A improbabilidade de surgirem e existirem as exatas coisas singulares que percebemos perdurarem e se desenvolverem a nossa volta, assim como nós mesmos, é ainda maior, é praticamente infinita. É por isso que cada ser singular que surge e perdura no universo é gratuito, sem dívida, sem culpa, porque não possui nenhum sentido singular pré-escrito na "lei geral da natureza", que é destruição dissipativa. Ou seja, é pela gratuidade, é pela superfluidade que existimos, agimos e criamos. Não devendo nada a alguma lei transcendental de escassez geral, até porque, na verdade, o que é geral não é escassez, mas abundância destrutiva, superfluidade dissipativa, "lei geral" que é responsável pela destruição, ao fim inevitável, mas não pela geração nem pela duração e tampouco pelo desenvolvimento dos seres (como diziam Lucrécio e Epicuro, na prática, "a morte não é nada para nós"). [3] [...]"


O texto completo está nesse link: Dissecando a metafísica da escassez



sábado, 21 de janeiro de 2017

Hipócrates: o desconhecido, o evidente e a arte

Muitas coisas ficam obscuras aos olhos dos mortais e muito se faz para ver o não evidente, justamente porque nem tudo é passível de verificação. Não recusemos o que podemos fazer, nem desejemos o que nos é impossível. Quase sempre buscamos dois fins, o homem e a arte, nele encontramos o desconhecido e nela os limites do próprio conhecimento. Tanto num caso como noutro, é preciso da sorte. (Epístolas, carta 16)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Hipócrates: resumo da ética hipocrática

Salvar vidas, a arte da medicina, está acima do poder, do dinheiro e das leis dos reinos em que se passa exercendo a medicina. O verdadeiro significado de corrupção não é quebrar as regras, mas exercer a arte como se não fosse válida por si só, exercendo-a, pelo contrário, por outra coisa alheia, como o dinheiro e as promessas e ameaças de quem tem poder e faz as leis. Se o médico não ama o que faz, ele vai se vender e causará dano, porque seu interesse será ganhar mais, buscando enganar e agradar quem lhe paga; em troca, torna-se escravo de quem tem dinheiro. O médico deve ser livre, autônomo, formando com outros uma comunidade que compartilha livremente as descobertas da medicina, sem se submeter a reinos, cidades ou povos, para servir a humanidade. (Resumo da ética hipocrática baseado nos textos “Acerca da arte”, “Epístolas”, “Preceitos” e outros. Resumo feito a partir de várias fontes, principalmente as contidas no livro "Textos Hipocráticos: o doente, o médico e a doença". Henrique F. Cairus, Wilson A. Ribeiro Jr.)

sábado, 26 de novembro de 2016

Hipócrates: momento oportuno (Kairós ) e avanço das coisas

Não observadas as coisas no momento oportuno de agir, elas se antecipam, se colocam em movimento e matam: o socorro não é mais possível. É difícil quando muitas coisas agem ao mesmo tempo; lidar com uma coisa de cada vez, em sequência, é mais apropriado e mais prudente. (Do Decoro, 13)

Lucrécio: composição sem teleologia

Não foi por decisão dos átomos que eles combinaram como se moveriam, mas porque, sendo muitos, de muitos modos sofreram mudanças por todo o universo, atingidos por choques desde a infinitude do tempo, experimentando todo o tipo de movimentos e ligações, acabando por chegar às disposições do nosso universo, que tendo acertado em movimentos consistentes, perdura durante longos ciclos de anos, e faz que os rios abasteçam o mar com águas abundantes, e a terra, aquecida pelo calor do sol, renove os seus frutos, proliferem os animais e brilhem as estrelas, coisas que não aconteceriam se a massa dos átomos não fosse constantemente abastecida, repondo tudo aquilo que se perdeu com a passagem do tempo. (De rerum natura I 1021-1037)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Lucrécio contra a teleologia

Devemos evitar o disparate de pensar que os olhos foram criados para podermos ver, ou que é para andarmos que temos pernas, ou que temos mãos para fazer o que é necessário à vida, pois nada nasceu no corpo para que o pudéssemos usar. O surgimento da língua precedeu em muito a linguagem, os ouvidos foram criados muito antes de um som ser ouvido, e foi também assim que todos os membros existiram antes de existir a sua utilização. Nossa técnica, inventada a partir do uso, é um caso a parte. (De rerum natura IV 823-854)


sábado, 22 de outubro de 2016

Lucrécio sobre o lathe biosas de Epicuro

Grande riqueza para o homem é viver frugalmente com  tranquilidade: com efeito, do pouco nunca há falta. Mas os homens quiseram ser ilustres e pode-rosos, para que a sua fortuna perdu-rasse sólida e, opulentos, tivessem uma vida tranquila. Em vão, pois com-petindo para alcançar o pico das hon-rarias, encheram de perigos o caminho e a ambição, como um raio, fulmina-os lá no alto e precipita-os num inferno. De modo que é muito melhor ser alguém pacato que executa em vez de querer mandar, ter poder e reinos. Deixe-os lá suar sangue em esforços vãos, labutando pelo estreito caminho da ambição. (De rerum natura V 1117-1130)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Lucrécio sobre a teoria do conhecimento

Quem acha que nada se sabe, também não poderia saber se isto pode ser sabido.  Suponha contudo que saiba. Mas perguntarei: visto que nunca viu verdade em nada, como sabe o que é saber e não saber? O  que criou a distinção do verdadeiro e do falso? Qual critério separa o certo do duvidoso? Descobriremos que o conhecimento da verdade surge antes de tudo dos sentidos, que não podem ser rebatidos. De fato, deve-se encontrar algo que tenha tanta credibilidade que pode, pelas suas próprias forças, vencer a falsidade com a verdade. Ora, este algo são os sentidos. (De rerum natura IV 469-482)

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Lucrécio sobre a morte

Muitas vezes os homens, se recli-nando, empunham taças e cobrem as têmporas com coroas, dizendo: "Breve é este fruto para os pobres mortais, rapidamente terá passado e nunca mais pode ser chamado de volta!" Como se o pior mal a temer na morte fosse uma sede ardente abrasar os infelizes ou existisse o desejo de qualquer coisa. Ninguém, com efeito, sente falta de si e da vida quando o corpo e a mente repousam juntos adormecidos. A morte, portanto, nada tem a ver conosco. (De rerum natura III 830-920)

Não será prolongando a vida que poderemos subtrair um só instante ao tempo da morte, para abreviar talvez o tempo em que estaremos mortos. Por isso, ainda que queiras somar séculos de vida, mesmo assim, porém, a tua morte continuará a ser eterna. E aquele que morreu hoje não deixará de existir durante menos tempo do que aquele que faleceu há muitos meses e anos. (De rerum natura III 1087-1094)



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Lucrécio: dinâmica de fluidos e morte/destruição

Quanto mais algo cresce, mais átomos emite de si em todas as direções, e mais o fluxo entrante de átomos se rarefaz comparado aos emitidos - falta alimento por fim. E os elementos externos, golpeando sem parar, debilitam seja o que for,  dominando agressivamente com os seus golpes. Assim,  também as muralhas em volta do imenso mundo, conquistadas, se hão de desmoronar e desabarão corroídas. (De rerum natura II 1117-1145)